Quase contra ética da informação

lições a partir do conceito de obrigação em Caputo e da noção de liberdade em Foucault

Autores

  • Bernd Frohmann

DOI:

https://doi.org/10.18617/liinc.v11i2.847

Palavras-chave:

Ética Informacional, John Caputo, Mediação tecnológica, Michel Foucault, Obrigação

Resumo

Em nossa visão, este é o momento de repesarmos a ética informacional. John Caputo é contra a “ética” e a favor do que chama de “obrigação”. Caputo reconhece as questões ditas éticas como um grande problema moral instalado, pertencente à nossa relação objetiva com os dilemas propriamente ditos. O pensamento de Caputo provoca o domínio confortável dos estudos da ética informacional que encara as catástrofes contemporâneas – a “obrigação” é um modo de estar vinculado a um desastre, não no âmbito da razão pura prática, mas no âmbito factual. Esta é, pois, a hora de retirar o lugar seguro da ética informacional. Nossa visão questiona a força da “obrigação” em uma sociedade mediada tecnologicamente, sociedade essa constituída por distração, negligências, concentração fragmentada, anedonia (ou incapacidade de sentir prazer em situações corriqueiras de interação social e/ou cultural, como escutar uma música e ter relações sexuais). Em diálogo com a crítica de Caputo, argumentamos que a ética elaborada por Michel Foucault, baseada na liberdade, permite a identificação de possibilidades de fuga dos efeitos entorpecentes do mundo mediado tecnologicamente. Neste sentido, defendemos aqui uma ética informacional menor (small-e information ethics), ou ética baseada em preceitos não universais, interessada nos fenômenos cotidianos materialmente constituídos. A ética que propomos é apofática, sendo elaborada a partir da negação de pressupostos de uma ética informacional constituída. Não se trata nem de uma teoria filosófica dos fundamentos de princípios morais, nem de uma ética da conduta, mas, sim, de um modo não prescritivo de encarar diretamente a possibilidade de ação, mais especificamente, a liberdade de ação. Recuperando conceitos pré-modernos de informação, como formação da mente ou do caráter, doação de forma a algo, dar vida, animar, propomos uma ética informacional sem regras, códigos ou preceitos de uma racionalidade moral, uma ética constantemente perturbada pela obrigação e pela consciência de liberdade de ação. Em outras palavras, tratamos aqui de uma quase contra ética da informação, que busca os modos de nos tornarmos diferentes daquilo que somos.

Referências

Austrian aid convoy heads for Hungary to help refugees. Al Jazeera and Reuters. Accessed September 3, 2015. Http://www.aljazeera.com/news/2015/09/austrian-aid-convoy-heads-hungary-refugees-150906142209841.html.

Benjamin, W. 1969. The work of art in the age of mechanical reproduction. In Illuminations, ed. H. Arendt, trans. H. Zohn, 217–51. New York: Schocken. 278 pp.

Blanchot, M. 1986. The writing of the disaster. Trans. A. Smock. Lincoln: University of Nebraska Press. Xiii, 150 p.

Caputo, J. 1993a. Against ethics: Contributions to a poetics of obligation with constant reference to deconstruction. Studies in Continental thought. Bloomington, Ind.: Indiana University Press. 292 p.

------. 1993b. On not knowing who we are: Madness, hermeneutics, and the night of truth in Foucault. In Foucault and the critique of institutions, ed. J. Caputo and M. Yount, 234–62. University Perk, Pennsylvania: The Pennsylvania State University Press.

------. 2003. Against principles: A sketch of an ethics without an ethics. In The ethical, ed. E. Wyschogrod and G. P. McKenny, 169–80. Malden, MA: Blackwell.

Crary, J. 2013. 24/7: Late capitalism and the ends of sleep. London; New York: Verso.

Foucault, M. 1997. What is Enlightenment? In Ethics: Subjectivity and truth, ed. P. Rabinow, trans. R. Hurley, 303–19. New York: New Press. Xlv, 334 p.

Frohmann, B. 2007. Foucault, Deleuze, and the ethics of digital networks. In Localizing the Internet: Ethical issues in intercultural perspective, ed. R. Capurro, J. Frübauer, and T. Hausmanninger. Schriftenreihe des ICIE Bd. 4, 57–68. Munich: Fink Verlag.

Horkheimer, M., and T. W. Adorno. 2002. The culture industry: Enlightenment as mass deception. In Dialectic of enlightenment: Philosophical fragments, ed. G. S. Noerr, trans. E. Jephcott. Cultural memory in the present. Stanford, Calif.: Stanford University Press. Xix, 282 p.

McLuhan, M. 1966. Understanding media: The extensions of man. 2d ed. New York: New American Library, Signet. 318 pp.

Slater, J. 2015. Brothers reveal hardships of journey to promised land. With the refugees in Munich. The Globe and Mail Ontario Edition (7 September):1, A6-A7.

Downloads

Publicado

30/11/2015

Edição

Seção

Dilemas ético-epistemológicos da era da informação