Reconhecimento e superação da exploração capitalista em redes criativas de colaboração e produção
DOI:
https://doi.org/10.18617/liinc.v12i1.861Palavras-chave:
Cultura e Poder, Cibercultura, Economia Política, Internet, Trabalho.Resumo
O industrialismo, como chaga desumanizadora, vem sendo encarado como algo a ser vencido pelo menos desde o início do século XX (senão antes). O caminho para isso, para a superação da frieza mecânica das máquinas de ferro, explosão, fumaça e força, movidas por trabalho alienante, tem sido apontado como uma busca do entendimento do funcionamento e de “retorno” ao orgânico, a sistemas produtivos tidos como mais flexíveis, naturais, feitos de carne, sangue, calor e leveza. A modelagem feita sobre os sistemas biológicos e da vida subsidiou o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, e, respectivamente, esses sistemas têm sido usados como exemplares para explicar uma certa “natureza” das redes informáticas como auto-organizadas, evolucionárias e emergentes. Este texto busca inter-relacionar a analogia sobre sistemas de computação biológica – como desenvolvida por Tiziana Terranova –, tomada como o modo típico de gerenciamento dessas redes, com pesquisas de campo de caráter etnográfico que informam sobre laboratórios digitais e outros ambientes de produção colaborativa e reflexões de natureza política sobre relações de exploração econômica dadas nesses ambientes. O imaginário tecnoutópico, que funciona como pano de fundo para esses laboratórios e outros ambientes de criação, afirma as tecnologias de informação como instrumentos de combate à burocratização e à alienação da sociedade. Contudo, este trabalho procura ir além dessas imagens – questionando suas origens e pressupostos naturalizantes –, ao mesmo tempo que afirma as possibilidades de resistência e reinvenção diante do capitalismo informacional de matriz cibernética, contidas nos espaços de criação. Explora-se aqui a possibilidade de uma relação ambígua, por isso mesmo interessante, entre as tentativas de controle e extração produtiva, de gerenciamento capitalista de ambientes criativos, horizontalizados e emergentes, e a constituição de alternativas e de modos de vida paralelos e independentes da sociedade de consumo de mercadorias. As redes informacionais são, na atualidade, exploradas como máquinas de produção com comportamento emergente, não centralizado, e, por isso, criativas. Podem ser concomitantemente espaços de constituição de uma vida fora (e para além) do capitalismo?
Referências
BARBROOK, R. Futuros imaginários: das máquinas pensantes à aldeia global. [s.l.] Peirópolis, 2009.
BRETON, P. A utopia da comunicacaçâo. [s.l.] Instituto Piaget, 1994.
CAETANO, M. A. Tecnologias da Resistência: Transgressão e Solidariedade nos Media Tácticos. Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação—Lisboa: Departamento de Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2006.
DANTAS, M. Trabalho com informação: valor, acumulação, apropriação nas redes do capital. Rio de Janeiro: Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, 2012.
EVANGELISTA, R. O movimento software livre do Brasil: política, trabalho e hacking. Horizontes Antropológicos, v. 20, n. 41, p. 173–200, jun. 2014.
EVANGELISTA, R. Traidores do movimento : politica, cultura, ideologia e trabalho no software livre. Tese de Doutorado—Campinas: UNICAMP: Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 25 fev. 2010.
FONSECA, A. Laboratorios sociales y ciudadanos. In: labSurlab + Co-operaciones. [s.l.] Co-operaciones, 2012.
FONSECA, F. S. Redelabs : laboratórios experimentais em rede. Dissertação de Mestrado—[s.l.] UNICAMP: Programa de Pós-Graduação em Divulgação Científica e Cultural, 25 mar. 2014.
FUCHS, C. Web 2.0, Prosumption, and Surveillance. Surveillance & Society, v. 8, n. 3, p. 288–309, 2 set. 2010.
PALMÅS, K. Predicting what you’ll do tomorrow: Panspectric surveillance and the contemporary corporation. Surveillance & Society, v. 8, n. 3, p. 338–354, 9 set. 2010.
ROSSITER, N. Organized Networks: Media Theory, Creative Labour, New Institutions. [s.l.] Institute of Network Cultures, 2006.
TERRANOVA, T. Network culture: politics for the information age. [s.l.] Pluto Press, 2004.
VIEIRA, M. S.; EVANGELISTA, R. A máquina de exploração mercantil da privacidade e suas conexões sociais (The Mercantile Privacy-Exploiting Machine and Its Social Connections). Rochester, NY: Social Science Research Network, 12 maio 2015. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/abstract=2608251>. Acesso em: 26 jan. 2016.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Rafael de Almeida Evangelista, Felipe Fonseca

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Liinc em Revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Consulte a Política de Acesso Livre e Autoarquivamento para informações permissão de depósitos de versões pré-print de manuscritos e artigos submetidos ou publicados à/pela Liinc em Revista.
Liinc em Revista, publicada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, é licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional – CC BY 4.0