O que é epistemicídio? Uma introdução ao conceito para a área da Ciência da Informação
DOI:
https://doi.org/10.18617/liinc.v17i2.5759Palavras-chave:
Epistemologia, Ciência da Informação, Epistemicídio, Crítica da Ciência, ConceitosResumo
Epistemicídio é um conceito aberto porque está em processo de dialetização permanente. Inicialmente associado aos exercícios de poder e violência contra saberes chamados de subalternos ou abissais, o conceito expande-se e as extensões epistemicidas podem ser pesquisadas em diversas áreas do conhecimento, inclusive na Ciência da Informação. Deste modo, este artigo desenvolve uma reflexão epistemológica sobre o conceito de epistemicídio do ponto de vista crítico-teórico. Para tanto, é necessário compreender algumas bases teóricas decoloniais e o que dissertam sobre as instâncias de poder de informação e conhecimento. A questão central baseia-se nos dilemas de complexidade, nos limites de interpretação e na legitimação dos espaços de significação do pensamento diante da urgência do debate em contextos científicos. Como se trata de pesquisa exploratória e de base qualitativa, foram selecionadas referências da literatura geral sobre o tema e específica da Ciência da Informação. A análise desse referencial seguiu os procedimentos de revisão de literatura e a problematização, utilizou o método hermenêutico-reflexivo para se chegar às posições teórico-epistemológicas sobre o conceito de epistemicídio. Os resultados indicam que o tema é discutido na literatura especializada da área. Na discussão foram identificados pontos de convergência com o processo dialético colonial de manutenção da cultura dominante por vias distintas, o que exige uma posição epistemologicamente crítica da Ciência da Informação. Conclui que é necessário exercer uma reflexão epistemológica sem desconsiderar posições em linhas de fronteiras ou mesmo contrárias. O artigo contribui para evidenciar o conceito de epistemicídio nos estudos de informação.
Referências
BOSI, Alfredo, 1992. Dialética da colonização. São Paulo, SP: Companhia das Letras.
BRITO, Rosaly de Seixas, ESTEVES, Lorena Cruz, VENTURA, Jússia Carvalho da Silva, 2019. Mulheres negras não foram feitas para carregar livros: tensionamento e resposta social em rede na Feira Pan-amazônica do Livro no Pará. Logeion: filosofia da informação, 2019, v. 6, n. 1, p. 106-125. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/122030.
BUSH, Vannevar, 1945. As we may think. The Atlantic, 1945, v. 176, n. 1, p.101-108. [Acesso em 27 maio 2021].
Disponível em: http://www.theatlantic.com/unbound/flashbks/computer/bushf.htm.
CAPURRO, Rafael, HJØRLAND, Birger, 2007. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, vol. 12. no. 1, p. 148-207, 2007. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pci/v12n1/11.pdf.
CARNEIRO, Sueli, 2006. A Construção do Outro como Não-Ser como fundamento do Ser. Tese (Doutorado em Educação). São Paulo, SP: Universidade de São Paulo, FEUSP. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/001465832.
FANON, Frantz, 2002. Os condenados da Terra. Minas Gerais: Editora UFJF.
FROHMANN, Bernd, 2004. Documentation redux: prolegomenon to (another) philosophy of information. Library Trends. 2004. vol. 52, no. 3, p. 387-407. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://www.ideals.illinois.edu/bitstream/handle/2142/1683/Frohmann387407.pdf?sequence=2&isAllowed=y.
GROSFOGUEL, Ramón, 2021. Decolonizing werstern universalisms: decolonial pluri-versalism from Aimé Césaire to the Zapatistas. Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World. 2021. vol. 1, no. 3, p. 88-104. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://escholarship.org/uc/item/01w7163v.
GUTIÉRREZ, Antonio GARCIA, 2013. La organización del conocimiento desde la perspectiva poscolonial. Itinerarios de la paraconsistencia. Knowledge Organization from a Postcolonial Perspective. Paraconsistency Routes. Perspectivas em Ciência da Informação, 2013. vol. 18, no. 4, p. 93-111. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/36573.
HJØRLAND, Birger, 2005. Empiricism, rationalism and positivism in library and information science. Journal of Documentation. 2005. vol. 61, no. 1, p. 130-155. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://www.emeraldinsight.com/doi/pdfplus/10.1108/00220410510578050.
ISHAY, Micheline R, 2008. The History of Human Rights: From Ancient Times to the Globalization Era, Berkeley (CA): University of California Press.
JAPIASSU, Hilton, 1975. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro, RJ: Imago.
LAFUENTE, Silvia, 2013. España e Hispanoamérica: crónica de un conflicto lingüístico. Boletín del Instituto de Investigaciones Bibliográficas (México), vol. XVIII, no. 1, , 2013. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/820.
LE COADIC, Yves-François, 2004. A Ciência da Informação. Brasília, DF: Briquet de Lemos.
LEMKIN, Raphael, 1933. Les actes constituant un danger general (interétatique) consideres comme delites des droit des gens. Paris: Librarie de la cour d'appel ed de l'order de advocates, 1933. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: http://www.preventgenocide.org/fr/lemkin/madrid1933.htm.
LEMKIN, Raphael. Axis Rule in Occupied Europe: Laws of Occupation - Analysis of Government - Proposals for Redress. Washington, D.C.: Carnegie Endowment for International Peace. 1944. p. 79 – 95. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: http://www.preventgenocide.org/lemkin/AxisRule1944-1.htm.
LIMA, Graziela dos Santos, ALMEIDA, Carlos Cândido de, 2019. Perspectiva pós-colonial e decolonial no campo da organização do conhecimento: reflexões para a construção de socs multiculturais. 2019. ISKO Brasil, vol. 6, p. 524-530. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em https://brapci.inf.br/index.php/res/v/125408.
MBEMBE, Achille, 2016. Necropolítica. Arte e Ensaios. 2016. no. 32, p. 123-151. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993/7169.
MBEMBE, Achille, 2018. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo, SP: N-1 edições.
MIGNOLO, Walter D, 2017. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. 2017. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 32, no. 94, p. 1-18. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/nKwQNPrx5Zr3yrMjh7tCZVk/?format=pdf&lang=pt
QUIJANO, Aníbal, 2000. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. Em: LANDER, Edgardo (Comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO – Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2000. p. 117-142 [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf.
QUIJANO, Aníbal, 2009. Colonialidade do Poder e Classificação Social. Em: B. S. Santos & M. P. Meneses (orgs.), Epistemologias do sul. Coimbra, Almedina p.73-117.
SALDANHA, Gustavo Silva, 2018. Epistemologia crítica e social da Ciência da Informação: 50 anos de uma escola dialética. Em: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação. Londrina,PR: Ancib, 2018. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/download/12468.
SANTOS, Boaventura de Sousa, 1995. Toward a New Common Sense: Law, Science and Politics in the Paradigmatic Transition. Nova Iorque: routledge, 1995.
SANTOS, Boaventura de Sousa, 1998. La Globalización del derecho: los nuevos caminos de la regulación y la emancipación. Bogotá, Colombia: IlSA; Universidad Nacional de Colombia. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/La_globalizacion_del_derecho_Los_nuevos_caminos_de_la_regulacion_y_la_emancipacion.pdf.
SANTOS, Boaventura de Sousa, 2006. A Gramática do Tempo. Porto: Edições Afrontamento.
SANTOS, Boaventura de Sousa, MENESES, Maria Paula (orgs.), 2009. Epistemologias do sul. Coimbra, Almedina.
SARACEVIC, Tefko, 1996. Ciência da informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em ciência da informação, p. 41-62, jan./jun. 1996. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/235.
SAYAPIN, Sergey. Raphael Lemkin: A Tribute. European Journal of International Law. 20, 2009. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://academic.oup.com/ejil/article/20/4/1157/530773#.
SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da, PIZARRO, Daniela Câmara, SALDANHA, Gustavo Silva, 2017. As temáticas africana e afro-brasileira em biblioteconomia e Ciência Da Informação. Em: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, n. XVIII ENANCIB, 2017. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/104859.
SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da, LIMA, Graziela dos Santos (org.), 2018. Bibliotecári@s Negr@s: ação, pesquisa e atuação política. Florianópolis, SC, Associação Catarinense de Bibliotecários, 2018.
SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da, SALDANHA, Gustavo Silva, PIZARRO, Daniela Câmara, 2018b. A Branquitude nas Práticas docentes em Biblioteconomia e Ciência da Informação: notas teórico-críticas sobre um ensino que promove o preconceito racial. Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, n. XIX ENANCIB, 2018b. [Acesso em 27 maio 2021]. https://brapci.inf.br/index.php/res/v/102318.
SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da, SALDANHA, Gustavo Silva, 2019. BIBLIOTECONOMIA NEGRA BRASILEIRA: caminhos, lutas e transformação. Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, n. XX ENANCIB, 2019. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/122306.
SLOTERDIJK, P, 2002. Se a Europa Despertar, Tradução José Oscar de Almeida Marques. São Paulo, SP: Estação Liberdade.
WERSIG, Gernot, 1993. Information Science: the study of postmodern knowledge usage. Information Processing & Management, vol. 29, no. 2, p.229-239, 1993. [Acesso em 27 maio 2021]. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/030645739390006Y.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Robson de Andrade Gonçalves, Marcos L. Mucheroni

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Liinc em Revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Consulte a Política de Acesso Livre e Autoarquivamento para informações permissão de depósitos de versões pré-print de manuscritos e artigos submetidos ou publicados à/pela Liinc em Revista.
Liinc em Revista, publicada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, é licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional – CC BY 4.0