Dependência e Soberania nas Tecnologias de Inteligência Artificial: uma análise a partir dos conceitos de acumulação primitiva de dados e Data Processing Inequality
DOI:
https://doi.org/10.18617/liinc.v20i2.7316Palabras clave:
Soberania Digital, Teoria da Dependência, Acumulação Primitiva de Dados, Desigualdade de Processamento de Dados, Colonialismo DigitalResumen
Essa pesquisa propõe uma elaboração teórica da relação entre soberania digital e a Teoria da Dependência, com o uso de conceitos como acumulação primitiva de dados e Desigualdade de Processamento de Dados. O estudo investiga como o modelo neoliberal atual de desenvolvimento das tecnologias de inteligência artificial (IA) se baseia em relações exploratórias entre o Norte e o Sul Global, emulando relações coloniais. Essa hipótese é discutida por autores do campo digital, com a mobilização de conceitos como colonialismo digital. O objetivo é resgatar uma leitura geopolítica da Teoria da Dependência, especialmente nas releituras contemporâneas de Theotonio Dos Santos (2020) e Claudia Wasserman (2022). A pesquisa propõe que a Teoria da Dependência dialoga com o conceito de acumulação primitiva de dados, conforme elaborado por Lippold e Faustino (2022), que sugere uma analogia entre a economia de dados atual e a acumulação inicial de bens produtivos na forma de propriedade individualizada, como identificado por Marx. Para construir esse diálogo, o estudo costura a Teoria da Dependência com o princípio da Desigualdade de Processamento de Dados, que afirma que qualquer processo de transformação de dados não pode aumentar a informação sobre a variável medida (BEAUDRY, RENNER, 2012). Esse princípio explica como a produção do “novo” nas tecnologias de IA depende necessariamente do aporte contínuo de novos dados, e propõe uma explicação para o avanço colonial das tecnologias de IA no Sul Global como desdobramento da necessidade de novos dados para a acumulação primitiva de capital.
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