Narrativas “historiográfico-midiáticas” na era da pós-verdade: Brasil Paralelo e o revisionismo histórico para além das fake news

Autores

  • André Bonsanto Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN, Brasil https://orcid.org/0000-0001-8406-4009

DOI:

https://doi.org/10.18617/liinc.v17i1.5631

Palavras-chave:

Fake News, Desinformação, Pós-verdade, Revisionismo histórico, Brasil Paralelo

Resumo

Este trabalho pretende delinear uma perspectiva ampliada sobre o fenômeno das fake news para problematizar o ambiente (des)informativo e revisionista em curso. Partimos do pressuposto que há uma proliferação cada vez mais proeminente de narrativas – que aqui definimos como “historiográfico-midiáticas” - capazes de reconfigurar o ecossistema informacional, evidenciando a conformação de novos atores, formatos e linguagens no cenário contemporâneo. Desta forma, propomos alguns olhares interpretativos sobre a produtora de conteúdo Brasil Paralelo, empresa que vêm se destacando com um reconhecido protagonismo na construção de narrativas deliberadamente revisionistas sobre a história recente brasileira. Como uma estratégia de embate político, estas narrativas serão pensadas sob um viés que as tensionem para além das notícias e do jornalismo propriamente dito, nos mostrando como a noção de (pós)“verdade” está circunscrita a uma problemática que envolve questões de ordem social, política e epistemológica, responsáveis por incitar - nos espaços comuns propiciados pelos ambientes digitais – a profusão de agendas específicas e muito bem delimitadas

Referências

ARENDT, Hannah,2009. Entre o passado e o futuro. São Paulo, SP: Perspectiva.

BAUER, Caroline Silveira; NICOLAZZI, Fernando Felizardo, 2016. O historiador e o falsário Usos públicos do passado e alguns marcos da cultura histórica contemporânea. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 32, n. 60, p. 807-835. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-87752016000300009

BRASIL PARALELO, 2019a. 1964 - O Brasil entre armas e livros. [Acesso em 23 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/3hX6xsb

BRASIL PARALELO,2019b. Direito de Resposta Brasil Paralelo. O Globo. 25 junho 2019. [Acesso em 22 fevereiro 2021]. Disponível em: https://glo.bo/2DppEfk

BRASIL PARALELO, 2020a. Resposta à matéria da Folha. [Acesso em 23 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2F2PTsi

BRASIL PARALELO,2020b. Um apelo aos patriotas. [Acesso em 23 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2Z4fatm

BRUNO, Fernanda.; ROQUE, Tatiana, 2019. A ponta de um iceberg de deconfiança. In: Barbosa, Mariana. (org). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro. RJ: Cobogó.

CAREY, James, 1989. Communication as Culture: Essays on Media and Society, London: Routledge.

CARVALHO, Olavo de, 2017. Prefácio ao livro de Mauro Abranches e Vladimír Petrilák sobre a atuação da KGB no Brasil. Puggina.org. Conservadores e Liberais. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/3v9lai8

CHARAUDEAU, Patrick, 2006. Discurso das mídias. São Paulo, SP: Contexto, 2006.

CORREIA, João Carlos, 2019. O novo ecossistema mediático e a desinformação como estratégia política dos populismos. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 16, n. 2, p. 23-32

CORREIA, João Carlos; Jerônimo, Pedro; Gradim, Anabela, 2019. Fake news: emoção, crença e razão na partilha seletiva em contextos de proximidade. Brazilian Journalism Research, vol. 15, n. 3, p. 626-651. DOI: https://doi.org/10.25200/BJR.v15n3.2019.1219

DIAS, André Bonsanto, 2019. Um Brasil (em) Paralelo: as “verdades” da ditadura e sua historicidade mediada como um empreendimento político. Anais do XII Encontro Nacional de História da Mídia. UFRN, Natal.

DUNKER, Christian (et. al), 2017. Ética e pós-verdade. São Paulo, SP: Brasiliense.

FOLHA de S. Paulo, 2019. Jornalismo profissional é antídoto para notícia falsa e intolerância. 12 março 2019. [Acesso em 22 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2QS0a0k

FONTANA, Josep, 1988. História, análise do passado e projeto social. Bauru: Edusc.

FRIAS FILHO, Otavio, 2018. O que é falso sobre fake news. Revista USP, São Paulo, n. 116, p. 39-44. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i116p39-44

GOMES, Wilson.; DOURADO, Tatiana, 2019. Fake news, um fenômeno de comunicação política entre jornalismo, política e democracia. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 16, nº 2, p. 33-45.

HABERMAS, Jürgen, 1989. Tendências Apologéticas. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 25, p.16-27.

HABGOOD-COOTE, Joshua, 2018. Stop talking about fake news! Inquiry, 62 (9-10), p.1033-1065. DOI: https://doi.org/10.1080/0020174X.2018.1508363

HERMAN, Edward; CHOMSKY, Noam, 2002. Manufacturing consent: the political economy of the mass media. New York: Pantheon Books.

KAKUTANI, Michiko, 2018. A morte da verdade: notas sobre a mentira na era Trump. Rio de Janeiro, RJ: Intrínseca.

KLEM, Bruna S.; PEREIRA, Mateus; ARAÚJO, Valdei (Orgs.), 2020. Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Editora Milfontes.

MARCONDES FILHO, Ciro, 2019. Fake news: o buraco é muito mais em baixo. In: FIGUEIRA, João; Santos, Silvio. (org.) As Fake News e a nova ordem (des)Informativa na era da pós-Verdade. Coimbra: Coimbra University Press.

MARCUSE, Herbert, 2015. O homem unidimensional: estudos da ideologia da sociedade industrial avançada. São Paulo, SP: Edipro.

MELO, Demian, 2006. A miséria da historiografia. Outubro, n. 14, 2006. p. 111-130.

MELO, Demian, 2013. Revisão e revisionismo historiográfico: os embates sobre o passado e as disputas políticas contemporâneas. Marx e o Marxismo, v.1, n.1, p. 49-74.

MELO, Demian, 2014. O golpe de 1964 e meio século de controvérsias: o estado atual da questão. In: MELO, Demian (org). A miséria da historiografia: uma crítica ao revisionismo contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Consequência.

MENESES, Sônia, 2020. Bolsonarismo: um problema “de verdade” para a história. In: KLEM, Bruna S.; PEREIRA, Mateus; ARAÚJO, Valdei (Orgs.). Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Editora Milfontes.

MIGUEL, Luis Felipe, 2019. Jornalismo, polarização política e a querela das fake news. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 16, nº 2, p. 46-58.

MORETZSOHN, Sylvia, 2019. O joio, o trigo, os filtros e as bolhas: uma discussão sobre fake news, jornalismo, credibilidade e afetos no tempo das redes. Brazilian Journalism Research, v. 15, n. 3, p. 574-597. DOI: https://doi.org/10.25200/BJR.v15n3.2019.1188

MORRIS-SUZUKI, Tessa, 2005. The past within us: media, memory, history. London; New York: Verso.

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria, 2015. Nova direita? Guerras de memória em tempos de Comissão da Verdade (2012-2014). Varia História, Belo Horizonte, vol. 31, n. 57, p. 863-902. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-87752015000300008

RÊGO, Ana Regina; BARBOSA, Marialva, 2020. A construção intencional da ignorância: o mercado das informações falsas. Rio de Janeiro: Mauad X.

ROCHA, João Cezar de Castro, 2021. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. Goiânia: Editora e Livraria Caminho.

ROXO, Marco; MELO, Seane, 2018. Hiperjornalismo: uma visada sobre fake news a partir da autoridade jornalística. Famecos, v. 25, n. 3, p. 1-19. DOI: https://doi.org/10.15448/1980-3729.2018.3.30572

SAYURI, Juliana, 2020. Brasil Paralelo faz “guerra de edições” e disputa narrativas na Wikipédia. TAB, Uol. 09 setembro 2020. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2QnEM3n

SENA JÚNIOR, Carlos Zacarias de (et al.) (org.), 2017. Contribuição à crítica da historiografia revisionista. Rio de Janeiro: Consequência Editora.

SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel, 2011. Informação e boato na rede. In: SILVA, Gislene (et al.) Jornalismo contemporâneo: figurações, impasses e perspectivas. Salvador: EDUFBA; Brasília: Compós.

TELES, Edson; QUINALHA, Renan (Orgs.), 2020. Espectros da ditadura: da Comissão da Verdade ao bolsonarismo. São Paulo: Autonomia Literária.

TRAVERSO, Enzo, 2012. O passado, modos de usar. História, memória e política. Lisboa: Edições Unipop.

VIDAL-NAQUET, Pierre, 1988. Os assassinos da memória: um Eichmann de papel e outros ensaios sobre o revisionismo. Campinas, SP: Papirus.

WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein, 2017. Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Strasbourg: Council of Europe Report.

WIKIPÉDIA, 2021. Página protegida. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: http://shorturl.at/afxEH

ZANINI, Fábio, 2020. Trilogia sobre educação mostra nova trincheira do bolsonarismo contra a esquerda. Folha de S. Paulo. 5 abril 2020. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2DnVtoK

ŽIZEK, Slavoj, 1992. Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Downloads

Publicado

02/06/2021

Como citar

BONSANTO, A. Narrativas “historiográfico-midiáticas” na era da pós-verdade: Brasil Paralelo e o revisionismo histórico para além das fake news. Liinc em Revista, [S. l.], v. 17, n. 1, p. e5631, 2021. DOI: 10.18617/liinc.v17i1.5631. Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5631. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Infodemia e o Nosso Futuro