Narrativas “historiográfico-midiáticas” na era da pós-verdade: Brasil Paralelo e o revisionismo histórico para além das fake news
DOI:
https://doi.org/10.18617/liinc.v17i1.5631Palavras-chave:
Fake News, Desinformação, Pós-verdade, Revisionismo histórico, Brasil ParaleloResumo
Este trabalho pretende delinear uma perspectiva ampliada sobre o fenômeno das fake news para problematizar o ambiente (des)informativo e revisionista em curso. Partimos do pressuposto que há uma proliferação cada vez mais proeminente de narrativas – que aqui definimos como “historiográfico-midiáticas” - capazes de reconfigurar o ecossistema informacional, evidenciando a conformação de novos atores, formatos e linguagens no cenário contemporâneo. Desta forma, propomos alguns olhares interpretativos sobre a produtora de conteúdo Brasil Paralelo, empresa que vêm se destacando com um reconhecido protagonismo na construção de narrativas deliberadamente revisionistas sobre a história recente brasileira. Como uma estratégia de embate político, estas narrativas serão pensadas sob um viés que as tensionem para além das notícias e do jornalismo propriamente dito, nos mostrando como a noção de (pós)“verdade” está circunscrita a uma problemática que envolve questões de ordem social, política e epistemológica, responsáveis por incitar - nos espaços comuns propiciados pelos ambientes digitais – a profusão de agendas específicas e muito bem delimitadas
Referências
ARENDT, Hannah,2009. Entre o passado e o futuro. São Paulo, SP: Perspectiva.
BAUER, Caroline Silveira; NICOLAZZI, Fernando Felizardo, 2016. O historiador e o falsário Usos públicos do passado e alguns marcos da cultura histórica contemporânea. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 32, n. 60, p. 807-835.
BRASIL PARALELO, 2019a. 1964 - O Brasil entre armas e livros. [Acesso em 23 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/3hX6xsb
BRASIL PARALELO,2019b. Direito de Resposta Brasil Paralelo. O Globo. 25 junho 2019. [Acesso em 22 fevereiro 2021]. Disponível em: https://glo.bo/2DppEfk
BRASIL PARALELO, 2020a. Resposta à matéria da Folha. [Acesso em 23 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2F2PTsi
BRASIL PARALELO,2020b. Um apelo aos patriotas. [Acesso em 23 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2Z4fatm
BRUNO, Fernanda.; ROQUE, Tatiana, 2019. A ponta de um iceberg de deconfiança. In: Barbosa, Mariana. (org). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro. RJ: Cobogó.
CAREY, James, 1989. Communication as Culture: Essays on Media and Society, London: Routledge.
CARVALHO, Olavo de, 2017. Prefácio ao livro de Mauro Abranches e Vladimír Petrilák sobre a atuação da KGB no Brasil. Puggina.org. Conservadores e Liberais. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/3v9lai8
CHARAUDEAU, Patrick, 2006. Discurso das mídias. São Paulo, SP: Contexto, 2006.
CORREIA, João Carlos, 2019. O novo ecossistema mediático e a desinformação como estratégia política dos populismos. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 16, n. 2, p. 23-32
CORREIA, João Carlos; Jerônimo, Pedro; Gradim, Anabela, 2019. Fake news: emoção, crença e razão na partilha seletiva em contextos de proximidade. Brazilian Journalism Research, vol. 15, n. 3, p. 626-651.
DIAS, André Bonsanto, 2019. Um Brasil (em) Paralelo: as “verdades” da ditadura e sua historicidade mediada como um empreendimento político. Anais do XII Encontro Nacional de História da Mídia. UFRN, Natal.
DUNKER, Christian (et. al), 2017. Ética e pós-verdade. São Paulo, SP: Brasiliense.
FOLHA de S. Paulo, 2019. Jornalismo profissional é antídoto para notícia falsa e intolerância. 12 março 2019. [Acesso em 22 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2QS0a0k
FONTANA, Josep, 1988. História, análise do passado e projeto social. Bauru: Edusc.
FRIAS FILHO, Otavio, 2018. O que é falso sobre fake news. Revista USP, São Paulo, n. 116, p. 39-44.
GOMES, Wilson.; DOURADO, Tatiana, 2019. Fake news, um fenômeno de comunicação política entre jornalismo, política e democracia. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 16, nº 2, p. 33-45.
HABERMAS, Jürgen, 1989. Tendências Apologéticas. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 25, p.16-27.
HABGOOD-COOTE, Joshua, 2018. Stop talking about fake news! Inquiry, 62 (9-10), p.1033-1065.
HERMAN, Edward; CHOMSKY, Noam, 2002. Manufacturing consent: the political economy of the mass media. New York: Pantheon Books.
KAKUTANI, Michiko, 2018. A morte da verdade: notas sobre a mentira na era Trump. Rio de Janeiro, RJ: Intrínseca.
KLEM, Bruna S.; PEREIRA, Mateus; ARAÚJO, Valdei (Orgs.), 2020. Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Editora Milfontes.
MARCONDES FILHO, Ciro, 2019. Fake news: o buraco é muito mais em baixo. In: FIGUEIRA, João; Santos, Silvio. (org.) As Fake News e a nova ordem (des)Informativa na era da pós-Verdade. Coimbra: Coimbra University Press.
MARCUSE, Herbert, 2015. O homem unidimensional: estudos da ideologia da sociedade industrial avançada. São Paulo, SP: Edipro.
MELO, Demian, 2006. A miséria da historiografia. Outubro, n. 14, 2006. p. 111-130.
MELO, Demian, 2013. Revisão e revisionismo historiográfico: os embates sobre o passado e as disputas políticas contemporâneas. Marx e o Marxismo, v.1, n.1, p. 49-74.
MELO, Demian, 2014. O golpe de 1964 e meio século de controvérsias: o estado atual da questão. In: MELO, Demian (org). A miséria da historiografia: uma crítica ao revisionismo contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Consequência.
MENESES, Sônia, 2020. Bolsonarismo: um problema “de verdade” para a história. In: KLEM, Bruna S.; PEREIRA, Mateus; ARAÚJO, Valdei (Orgs.). Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. Vitória: Editora Milfontes.
MIGUEL, Luis Felipe, 2019. Jornalismo, polarização política e a querela das fake news. Estudos em Jornalismo e Mídia, vol. 16, nº 2, p. 46-58.
MORETZSOHN, Sylvia, 2019. O joio, o trigo, os filtros e as bolhas: uma discussão sobre fake news, jornalismo, credibilidade e afetos no tempo das redes. Brazilian Journalism Research, v. 15, n. 3, p. 574-597.
MORRIS-SUZUKI, Tessa, 2005. The past within us: media, memory, history. London; New York: Verso.
PEREIRA, Mateus Henrique de Faria, 2015. Nova direita? Guerras de memória em tempos de Comissão da Verdade (2012-2014). Varia História, Belo Horizonte, vol. 31, n. 57, p. 863-902.
RÊGO, Ana Regina; BARBOSA, Marialva, 2020. A construção intencional da ignorância: o mercado das informações falsas. Rio de Janeiro: Mauad X.
ROCHA, João Cezar de Castro, 2021. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. Goiânia: Editora e Livraria Caminho.
ROXO, Marco; MELO, Seane, 2018. Hiperjornalismo: uma visada sobre fake news a partir da autoridade jornalística. Famecos, v. 25, n. 3, p. 1-19.
SAYURI, Juliana, 2020. Brasil Paralelo faz “guerra de edições” e disputa narrativas na Wikipédia. TAB, Uol. 09 setembro 2020. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2QnEM3n
SENA JÚNIOR, Carlos Zacarias de (et al.) (org.), 2017. Contribuição à crítica da historiografia revisionista. Rio de Janeiro: Consequência Editora.
SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel, 2011. Informação e boato na rede. In: SILVA, Gislene (et al.) Jornalismo contemporâneo: figurações, impasses e perspectivas. Salvador: EDUFBA; Brasília: Compós.
TELES, Edson; QUINALHA, Renan (Orgs.), 2020. Espectros da ditadura: da Comissão da Verdade ao bolsonarismo. São Paulo: Autonomia Literária.
TRAVERSO, Enzo, 2012. O passado, modos de usar. História, memória e política. Lisboa: Edições Unipop.
VIDAL-NAQUET, Pierre, 1988. Os assassinos da memória: um Eichmann de papel e outros ensaios sobre o revisionismo. Campinas, SP: Papirus.
WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein, 2017. Information disorder: toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Strasbourg: Council of Europe Report.
WIKIPÉDIA, 2021. Página protegida. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: http://shorturl.at/afxEH
ZANINI, Fábio, 2020. Trilogia sobre educação mostra nova trincheira do bolsonarismo contra a esquerda. Folha de S. Paulo. 5 abril 2020. [Acesso em 24 fevereiro 2021]. Disponível em: https://bit.ly/2DnVtoK
ŽIZEK, Slavoj, 1992. Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 André Bonsanto

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Liinc em Revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Consulte a Política de Acesso Livre e Autoarquivamento para informações permissão de depósitos de versões pré-print de manuscritos e artigos submetidos ou publicados à/pela Liinc em Revista.
Liinc em Revista, publicada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, é licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional – CC BY 4.0