LivrOnça: um conceito de livro na América Indígena
DOI:
https://doi.org/10.18225/ci.inf.v52i1.6550Palavras-chave:
livrOnça, diferOnça, gramatologia indígena – América, filosofia do livro, pensamento ameríndioResumo
O texto está disposto em quatro momentos dialógicos: i) uma (re)introdução de um devir-América bibliográfico e contracultural, obliterado nas rasuras das escrituras coloniais, ii) uma arqueologia do conceito de livro a partir do advento no mundo grego antigo do anthropos como um doador de forma anímico-corporal aos grafismos alfabéticos do Ocidente, iii) a exposição do LivrOnça como um livro possível de Abya Yala, presente nas semiofagias da diferOnça (différonce) das gramatologias da América, e, por fim, iv) o último instante textual aborda os encantamentos finiciais, um presente fim como cessação da condição absoluta, desencantada e acabada do livro ocidental que se encanta através do (re)início ancestral, do endeusamento das coisas e da fabricação da vida pelas escrituras ameríndias dos povos da Terra Viva, também conhecida como Amoxtlapan, terra dos livros vivos. Diante de uma perspectiva teórica de argumentação, o texto caminha por meio dos agenciamentos terranos da geofilosofia proposta por Deleuze e Guattari e do diferimento espaço-temporal desconstrutivo do livro proposto por Derrida, entretanto, com uma diferença, ambos os métodos são devorados pelas perspectivas multinaturais dos povos ameríndios. Jaguarear o livro, este é o objetivo onçológico do texto.
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