LivrOnça: um conceito de livro na América Indígena

Autores

  • Vinícios Souza de Menezes Professor do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

DOI:

https://doi.org/10.18225/ci.inf.v52i1.6550

Palavras-chave:

livrOnça, diferOnça, gramatologia indígena – América, filosofia do livro, pensamento ameríndio

Resumo

O texto está disposto em quatro momentos dialógicos: i) uma (re)introdução de um devir-América bibliográfico e contracultural, obliterado nas rasuras das escrituras coloniais, ii) uma arqueologia do conceito de livro a partir do advento no mundo grego antigo do anthropos como um doador de forma anímico-corporal aos grafismos alfabéticos do Ocidente, iii) a exposição do LivrOnça como um livro possível de Abya Yala, presente nas semiofagias da diferOnça (différonce) das gramatologias da América, e, por fim, iv) o último instante textual aborda os encantamentos finiciais, um presente fim como cessação da condição absoluta, desencantada e acabada do livro ocidental que se encanta através do (re)início ancestral, do endeusamento das coisas e da fabricação da vida pelas escrituras ameríndias dos povos da Terra Viva, também conhecida como Amoxtlapan, terra dos livros vivos. Diante de uma perspectiva teórica de argumentação, o texto caminha por meio dos agenciamentos terranos da geofilosofia proposta por Deleuze e Guattari e do diferimento espaço-temporal desconstrutivo do livro proposto por Derrida, entretanto, com uma diferença, ambos os métodos são devorados pelas perspectivas multinaturais dos povos ameríndios. Jaguarear o livro, este é o objetivo onçológico do texto.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do autor

Vinícios Souza de Menezes, Professor do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Graduado em Biblioteconomia e Documentação (UFBA)

Mestre em Ciência da Informação (PPGCI UFBA)

Doutor em Ciência da Informação (PPGCI IBICT UFRJ)

Pós-Doutorando em Ciência da Informação (PPGCI IBICT UFRJ)

Referências

AGAMBEN, Giorgio. A comunidade que vem. Lisboa: Editorial Presença, 1993.

AGAMBEN, Giorgio. A potência do pensamento. Lisboa: Relógio D’água, 2013.

AGAMBEN, Giorgio. Bartleby, escrita da potência: Bartleby, ou Da contingência. Lisboa: Assírio & Alvim, 2008.

AGAMBEN, Giorgio. O aberto: o homem e o animal. Lisboa: Edições 70, 2011.

AGAMBEN, Giorgio. O uso dos corpos. São Paulo: Boitempo, 2017.

ANDRADE, Oswald. Manifesto antropófago. In: ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. Rio de Janeiro: Globo, 2011. p. 67-74.

ARISTÓTELES. Da alma. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010.

ARISTÓTELES. Da interpretação. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002.

ARISTÓTELES. Política. Madrid: Gredos, 1988.

ARISTÓTELES. Tópicos. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2007.

BANIWA, André. A escrita Baniwa sempre existiu. Uol, São Paulo,12 de maio de 2021. Coluna da Julie Dorrico. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julie-dorrico/2021/05/12/a-escrita-baniwa-sempre-existiu.htm. Acesso em: 15 dez. 2021.

BARACAT JÚNIOR, José Carlos. Plotino, Eneadas I, II e III; Porfirio, vida de Plotino: introdução, tradução e notas. 2006. 2 v. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, UNICAMP, Campinas, 2006.

BARATIN, M. Da biblioteca à gramática: o paradigma da acumulação. In: BARATIN,

M.; JACOB, C. (ed.). O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente. Rio de

Janeiro: UFRJ, 2000. p. 227-233.

BATALLA ROSADO, Juan José; LUIS DE ROJAS, José. Soportes de la escritura mesoamericana. Estudios de Historia social y económica de América, Madrid, v. 12, p. 639-650, 1995.

BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BERISTÁIN, Helena; RAMÍREZ VIDAL, Gerardo (ed.). La palavra florida: la tradición retórica indígena y novohispana. Ciudad de México: UNAM, 2004.

BORGES, Jorge Luis. A escrita do deus. In: BORGES, Jorge Luis. O Aleph. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 104-110.

BROTHERSTON, Gordon. La América Indígena en su literatura: los libros del Cuarto Mundo. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1997.

BROTHERSTON, Gordon. Meaning in a Bororo jaguar skin. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, v. 11, p. 243-260, 2001. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2001.109421

BROTHERSTON, Gordon. Towards a Grammatology of America: Lévi-Strauss, Derrida and the Native New World Text. In: BARKER, Francis; HULME, Peter; IVERSEN, Margaret; LOXLEY, Diana (org.). Literature, Politics and Theory: papers from the Essex Conference 1976–84. London: Methuen, 1986. p. 190-209.

C NDIDO, Antônio. Digressão sentimental sobre Oswald de Andrade. In: C NDIDO, Antônio. Vários escritos. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977. p. 57-87.

CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, 2005.

CASSIN, Barbara. Elogio da tradução: complicar o universal. São Paulo: Martins Fontes, 2022.

CASSIN, Barbara. Jacques, o sofista: Lacan, logos e psicanálise. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

CASSIN, Barbara. O efeito sofístico. São Paulo: Ed. 34, 2005.

CASSIN, Barbara. Se Parmênides: o tratado anônimo De Melisso Xenophane Gorgia. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

CESARINO, Pedro de Niemeyer. A escrita e os corpos desenhados: transformações do conhecimento xamanístico entre os Marubo. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 55, n. 1, p. 75-137, 2012. DOI: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2012.47583

COE, M. D. Olmec Jaguars and Olmec Kings. In: BENSON, Elizabeth P. (ed.) The cult of the feline. Washington: Dumbarton Oaks, 1972. p. 1-12.

COELHO, Carlos Cardozo. Ontofagia: um materialismo mágico. Rio de Janeiro: Ape’Ku, 2020.

CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas. São Paulo: Ubu Editora, 2017.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago editora, 1977.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, 1995. v. 1

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 2005.

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 2013.

DERRIDA, Jacques. Papel-máquina. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.

DESCOLA, Philippe. La selva culta: simbolismo y praxis en la ecología de los Achuar. Quito: Ediciones Abya Yala, 1988. DOI: https://doi.org/10.4000/books.ifea.1600

DIOGO, João Emanuel. Cartografia da humanidade: o corpo em Homero. Revista Filosófica de Coimbra, Coimbra, v. 48, p. 355-366, 2015. DOI: https://doi.org/10.14195/0872-0851_48_5

DUSCHINSKY, Robert. Tabula Rasa and Human Nature. Philosophy, Londres, v. 87, n. 4, p. 509-529, 2012. DOI: https://doi.org/10.1017/S0031819112000393

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Edufba, 2008.

FANON, Frantz. Os condenados da Terra. São Paulo: Civilização brasileira, 1968.

FRANCHETTO, Bruna. Brasil de muitas línguas. In: CASSIN, Bárbara (coord.). Dicionários dos intraduzíveis: um vocabulário das filosofias: volume um: línguas. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 77-100.

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. Cem anos de solidão. Rio de Janeiro: Record, 2006.

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. Eu não vim fazer um discurso. Rio de Janeiro: Record, 2019.

GERRITSE, Samantha. Narrative and Ritual in the Codex Borgia: a structural analysis of pages 29 to 46 of this Postclassic Mexican manuscript. 2013. Thesis (Doctorate in Religion and Society) – Faculty of Archaeology of Universiteit Leiden, Universiteit Leiden, 2013.

GOW, Peter. A geometria do corpo. In: NOVAES, Adauto (ed.). A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

KOPENAWA, David; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LAGROU, Els. Podem os grafismos ameríndios ser considerados quimeras abstratas? Uma reflexão sobre uma arte perspectivista. In: SEVERI, Carlo; LAGROU, Els (ed.). Quimeras em diálogo: grafismo e figuração nas artes indígenas. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013. p. 67-110.

LEÓN-PORTILHA, Miguel. Códices: os antigos livros do Novo Mundo. Florianópolis: Ed. UFSC, 2012a.

LEÓN-PORTILHA, Miguel. La riqueza semântica de los códices mesoamericanos. Estudios de Cultura Náhuatl, Ciudad de México, v. 43, p. 139-160, 2012b.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. Lisboa: Edições 70, 1957.

LIMA, Tânia Stolze. O que é um corpo? Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 9-20, 2002.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

MACEDO, Silvia Lopes da Silva. Xamanizando a escrita: aspectos comunicativos da escrita ameríndia. Mana, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 509-528, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-93132009000200007

MALDONADO-TORRES, Nelson, 2007. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón (ed.). El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Pontificia Universidad Javeriana, 2007. p. 127-167.

MALLARMÉ, Stéphane. Divagações. Florianópolis: Ed. UFSC, 2010.

MARTINS, Leda. Afrografias da memória, o reinado do rosário no Jatobá. São Paulo: Perspectiva, 1997.

MARTINS, Leda. Perfomances da oralitura: corpo, lugar da memória. Letras, Santa Maria, v. 26, p. 63-81, 2003.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.

MUSEO REGIONAL DE ANTROPOLOGÍA PALACIO CANTÓN. La palabra visible, escritura jeroglífica maya. [Exposición temporal]. Mérida: Instituto Nacional de Antropología e Historia, [2021].

MUSSA, Alberto. Meu destino é ser onça. Rio de Janeiro: Record, 2009.

NIMUENDAJU, Curt. Fragmentos de religião e tradição dos índios Sipáia. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 7, p. 3‐47, jul. 1981.

NOLA, Alfonso di. Livro. In: ENCICLOPEDIA Einaudi. v. 12. MythosLogos. Porto: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2000. p. 215-242.

OLSON, Hope A. Exclusivity, Teleology and Hierarchy: our Aristotelean Legacy. Knowledge Organization, Baden-Baden, v. 26, n. 2, p. 65-73, 1999.

OTLET, Paul. Traité de documenatation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas: Editiones Mundaneum, 1934.

PAVÓN-CUÉLLAR, David. Além da psicologia indígena: concepções mesoamericanas da subjetividade. São Paulo: Perspectiva, 2022.

PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2017.

PLATÃO. Fedro ou Da Beleza. Lisboa: Guimarães Editores, 2000.

PLATÃO. Filebo, Timeo, Critias. Madrid: Grecos, 1992.

PLATÃO. Teeteto e Crátilo. Belém: Ed. UFPA, 1988.

POMAR, Juan Bautista. Relación de Texcoco y varias relaciones antiguas. México: Salvador Chávez Hayhoe, 1964.

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Abya Yala. In: SADER, Emir; JINKINGS, Ivana; NOBILE, Rodrigo; MARTINS, Carlos Eduardo (coord.). Latinoamericana: enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe. São Paulo: Boitempo, 2006. Disponível em: http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/a/abya-yala. Acesso em: 19 abr. 2023.

ROSA, João Guimarães. Meu tio o Iauaretê. In: ROSA, João Guimarães. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. v. 2, p. 744-769.

SANTOS, Eduardo Natalino dos. Os sistemas mesoamericanos de escritura. In: SANTOS, Eduardo Natalino dos; MARTINS, Cristiane B.; FRANÇA, Leila Maria. (org.). História e arqueologia da América indígena: tempos pré-colombianos e coloniais. Florianópolis: Ed. UFSC, 2017. p. 73-96.

SILVA, Denise Ferreira da. Homo modernus: para uma ideia global de raça. Rio de Janeiro: Cobogó, 2022.

TAYLOR, Anne Christine; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Um corpo feito de olhares (Amazônia). Revista de Antropologia, São Paulo, [online], v. 62, n. 3, p. 769-818, 2019. DOI: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.165236

VAN VELTHEM, Lúcia Hussak. O belo é a fera: a estética da produção e da predação entre os Wayana. 1995. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, 1995.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 14/15, p. 319-338, 2006. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p319-338

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2017.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu Editora, 2018a.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, v. 18, p. 225-254, 2004.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Rosa e Clarice: a fera e o fora. Revista Letras, Curitiba, v. 98, p. 9-30, jul/dez. 2018b.

Publicado

22/09/2023

Como citar

Menezes, V. S. de. (2023). LivrOnça: um conceito de livro na América Indígena . Ciência Da Informação, 52(1). https://doi.org/10.18225/ci.inf.v52i1.6550