Infodemia, desinformação e vacinas: a circulação de conteúdos em redes sociais antes e depois da COVID-19
DOI:
https://doi.org/10.18617/liinc.v17i1.5689Palavras-chave:
Infodemia, Vacina, Desinformação, Redes Sociais, COVID-19Resumo
A pandemia da COVID-19 está sendo acompanhada pela circulação de um grande volume de informações, em parte enganosas ou falsas, fenômeno conhecido como “infodemia”. A superabundância informativa dificulta a identificação de fontes confiáveis e pode afetar a adesão a medidas de contenção, como as vacinas. Neste artigo, investigamos os cem links sobre “vacina” que geraram mais engajamento nas redes sociais em 2020 e os comparamos com os de mais engajamento em 2018-2019, antes da pandemia. O objetivo é compreender os modos como a infodemia afeta o debate público sobre vacinação, como a desinformação aparece nessas conversações e quais são os posicionamentos, emissores e temas privilegiados. Identificamos que o engajamento médio aumentou 8,6 vezes e que a predominância de informações verificadas se manteve antes e durante a pandemia. Contudo, o engajamento da desinformação cresceu de maneira expressiva e seu perfil mudou: se em 2018-2019 predominavam os conteúdos totalmente falsos e emitidos por veículos não profissionais, em 2020 se destacam as informações distorcidas por manchetes sensacionalistas emitidas por veículos profissionais. Além disso, a instrumentalização política do debate sobre vacinação, presente nos dois contextos, chama a atenção para a relação entre desinformação e disputas narrativas. Esses resultados apontam a complexificação da infodemia e a necessidade de estratégias de combate à desinformação que levem em consideração os contextos econômicos e sociopolíticos da circulação de informações nas redes
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