Competência em informação como forma de pedagogia decolonial e intercultural: construindo significados

Autores

  • Guilherme Goulart Righetto Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil https://orcid.org/0000-0002-4208-376X
  • Cezar Karpinski Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2446-0653
  • Elizete Vieira Vitorino Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil https://orcid.org/0000-0003-2462-6553

DOI:

https://doi.org/10.18617/liinc.v17i2.5750

Palavras-chave:

Competência em informação, Pensamento decolonial, Pedagogia decolonial, Interculturalidade

Resumo

A competência em informação diz respeito, em síntese, à aprendizagem contínua, sendo uma forma de autoconsciência, socialização autoguiada ou de autodenominação. É uma ferramenta que pode levar ao empoderamento, à autoexpressão e ao diálogo intercultural dos cidadãos. No entanto, dependendo da natureza do terreno social, a competência em informação pode servir a propósitos distintos dos que se esperam em sua função social. Isso porque, ao considerar a informação como mecanismo de poder, podem-se constituir práticas opressivas ou libertadoras às minorias sociais, em especial às populações latino-americanas, considerando suas diversidades culturais, sociais e históricas. O objetivo geral do artigo, dito isto, é apresentar os pressupostos teóricos para a construção de uma competência em informação “subversiva” aos padrões hegemônicos colonizadores, respaldado pela pedagogia decolonial e pela interculturalidade, buscando, assim, responder a seguinte questão: quais pressupostos são necessários para a edificação de uma competência em informação “subversiva”? Metodologicamente, a pesquisa que resultou neste artigo é exploratória, qualitativa e bibliográfica, com cunho ensaístico. O principal resultado se pauta na ratificação do fazer a competência em informação como fazeres-outros, expandindo as formas de discutir, de ensinar e de assimilar as múltiplas formas possíveis dessa metacompetência. Conclui-se que é preciso assumir tal competência como metodologia(s) e ação(es) emergente(s) em contextos de marginalização, subalternização, luta, reexistência e resistência, contribuindo com práticas insurgentes de resistir, (re)existir e (re)viver, que possibilitam modos muito diversos de ser, existir, pensar, conhecer, sentir, ser e conviver – ou seja, como práxis fronteiriça que afronta a colonialidade do poder e as suas práticas pedagógicas

Biografia do autor

Guilherme Goulart Righetto, Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Cezar Karpinski, Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

Professor Associado I da Universidade Federal de Santa Catarina onde atua nos cursos de graduação em Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação, e no curso de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Bacharel em Filosofia, mestre e doutor em História. 

Elizete Vieira Vitorino, Departamento de Ciência da Informação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

Pós doutora pela Faculdade de Letras (FLUP), da Universidade do Porto (UP), Portugal. Doutora em Engenharia de Produção (2004) na área de Mídia e Conhecimento e Educação a Distância (EaD) e Mestre em Engenharia de Produção (1996) na área de Gestão da Qualidade em Bibliotecas, ambas titulações conferidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduação em Biblioteconomia pela UFSC (1991). Professora (2006) e pesquisadora do Departamento de Ciência da Informação (CIN), Centro de Ciências da Educação (CED), da UFSC com atuação nos Cursos de Biblioteconomia, Arquivologia e Ciência da Informação. 

Referências

AGUERO-CONTRERAS, Fernando Carlos; URQUIZA-GARCIA, Cándida Rosa. Multicultura e interculturalidad: implicaciones de una ausencia en la educación. Educ. Pesqui., 2016. vol. 42, no. 2, p. 459-475. [Acesso em 10 maio 2021]. DOI 1590/S1517-9702201606146327.

AGUER, Bárbara (Ed.), 2014. Cartografías del poder y descolonialidad. Buenos Aires: Del Signo.

AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION (ALA). Association of College and Research Libraries (ACRL). Presidential Committee on Information Literacy: Final Report (January 1989). [Acesso em 16 maio 2021]. Disponível em: http://www.ala.org/acrl/publications/whitepapers/presidential.

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít., 2013. no. 11, p. 89-117. [Acesso em 23 maio 2021]. DOI 10.1590/S0103-33522013000200004.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago, 2005. Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da ‘invenção do outro’. Em: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais, perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso.

COOKE, Nicole A, 2017. Information services to diverse populations: Developing culturally competent library professionals. Santa Barbara, CA: Libraries Unlimited.

DANTAS, Sylvia Duarte (Org.), 2012. Diálogos Interculturais: Reflexões Interdisciplinares e Intervenções Psicossociais. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

ELMBORG, James. Critical information literacy: implications for instructional practice. The Journal of Academic Librarianship. 2006. vol. 32, no. 2, p. 192-199. [Acesso em 10 maio 2021]. DOI 10.1016/j.acalib.2005.12.004.

FANON, Frantz, 1968. Sociologia de una revolución. México: Ediciones ERA.

FANON, Frantz, 2008. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador. Editora: EDUFBA.

FANON, Frantz, 2009. Los Condenados de la Tierra. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica.

FANON, Frantz, 2011. Racismo e cultura. Em: SANCHES, Manuela Ribeiro (Org.). Malhas que os Impérios tecem. Textos anticoloniais, contextos pós-coloniais. Portugal. p. 273-283.
FLICK, Uwe, 2009. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FONTALVO, Iván Manuel Sánchez, 2013. La interculturalidad desde la perspectiva de la inclusión socioeducativa. Santa Marta: Universidad del Magdalena.

FREIRE, Paulo, 1996. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

FREIRE, Paulo, 2013. Pedagogia da Tolerância. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

FREIRE, Paulo, 2014. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Paz e Terra.

HICKS, Alison; LLOYD, Annemaree. It takes a community to build a framework: Information literacy within intercultural settings. Journal of Information Science. 2016. vol. 42, no. 3, p. 334-343. [Acesso em 30 abril 2021]. DOI 10.1177/0165551510000000

JACOBS, Heidi L. M. Information literacy and reflective pedagogical praxis. The Journal of Academic Librarianship, v. 34, n. 3, p. 256-262, 2008. [Acesso em 15 maio 2021]. DOI 10.1016/j.acalib.2008.03.009.

LATOUR, Bruno, 2004. Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru: Edusc, 2004.

LLOYD, Annemaree. Information literacy: the meta-competency of the knowledge economy? An exploration paper. Journal of Librarianship and Information Science. 2003. vol. 35, no. 2, p. 87-92. [Acesso em 10 maio 2021]. DOI 10.1177/0961000603352003.

LLOYD, Annemaree. Information literacy landcapes: an emerging picture. Journal of Documentation. 2006. vol. 62, no. 5, p. 570-583. [Acesso em 16 maio 2021]. DOI 10.1108/00220410610688723.

LUYT, Brendan; AZURA, Intan. The sigh of the information literate: an examination of the potential for oppression in information literacy. Information Research. 2010. vol. 15, no. 3. [Acesso em 15 maio 2021]. Disponível em: http://informationr.net/ir/15-3/colis7/colis711.html.

MIGLIEVICH-RIBEIRO, Adelia. Por uma razão decolonial: Desafios ético-político-epistemológicos à cosmovisão moderna. Civitas - Revista de Ciências Sociais. 2014. 14, n. 1, p. 66-80. [Acesso em 15 maio 2021]. DOI 10.15448/1984-7289.2014.1.16181.

MIGNOLO, Walter, 2013. Historias locales/diseños globales: colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Akal, 2013.

MIGNOLO, Walter, 2007. El pensamiento decolonial: despredimiento y apertura. Em: CASTRO-GÓMES, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre editores; Universidade Central; Instituto de Estudios Socialies Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana; Instituto Pensar. p. 25-47.

MIGNOLO, Walter, 2010. Desobediencia epistémica: retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad y gramática de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del Signo.

MIGNOLO, Walter, 2011. The darker side of western modernity: global futures, decolonial options. Durham: Duke University Press.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.), 2011. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18. ed. Petrópolis: Vozes.

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria, 2007. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica.

OCAÑA, Alexander Ortiz, 2016. Epistemologías de la modernidad. Cambio de paradigma en el siglo XXI. Bogotá: Klasse.

OCAÑA, Alexander Ortiz; LÓPEZ, María Isabel Arias; CONEDO, Zaira Esther Pedrozo, 2018. Decolonialidad de la educación: emergencia urgencia de una pedagogía decolonial. Santa Marta: Universidad del Magdalena.

OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; CANDAU, Vera Maria Ferrão. Pedagogia decolonial e educação antirracista e intercultural no Brasil. Educ. rev., 2010. vol. 26, no. 1, p. 15-40. [Acesso em 25 abril 2021]. DOI 10.1590/S0102-46982010000100002.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina, 2005. Em: LANDER, E. (Org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas. Buenos Aires: Clacso. p. 227-277.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social, 2007. Em: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (Orgs.). El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores. p. 93-126.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social, 2009. Em: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra -Portugal: Almedina. p. 74-117.

QUIJANO, Aníbal (Ed.), 2014. Des/colonialidad y bien vivir: un nuevo debate en America Latina. Lima: Editorial Universitaria.

SANTOS, Boaventura de Sousa. El Foro Social Mundial y la Izquierda Global. El Viejo Topo. 2008. vol. 240, p. 39-62. [Acesso em 15 maio 2021]. Disponível em: https://www.ces.uc.pt/bss/documentos/el_foro_social_mundial_y_la_izquierda_global_2008.pdf.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.), 2009. Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina.

SANTOS, Boaventura de Sousa, 2010. Descolonizar el Saber, Reinventar el Poder. Montevideo: TRILCE.

SCHIFFMAN, Leon G.; KANUK, Leslie Lazar, 2000. Comportamento do consumidor. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC.

SEGATO, Rita Laura, 2014. Aníbal Quijano y la perspectiva de la colonailidad del poder. Em: QUIJANO, Aníbal (Ed.). Des/colonialidad y bien vivir: un nuevo debate en America Latina. Lima: Editorial Universitaria. p. 35-71.

RIGHETTO, Guilherme Goulart; VITORINO, Elizete Vieira; MURIEL-TORRADO, Enrique. Competência em informação no contexto da vulnerabilidade social: conexões possíveis. Informação & Sociedade: Estudos. 2018. vol. 28, no. 1. [Acesso em 30 abril 2021]. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/34735.

SOFIA, Pasquale, 2013. La descolonización cultural de América Latina. Antología de una polémica filosófica. Maracaibo: Universidad Católica Cecilio Acosta.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty, 2010. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty, 2015. Crítica de la razón poscolonial. Hacia una historia del presente evanescente. Madrid: Akal.

SUESS, Rodrigo Capelle; SILVA, Alcinéia de Souza. A perspectiva decolonial e a (re)leitura dos conceitos geográficos no ensino de geografia. Geografia Ensino & Pesquisa. 2019. v. 23, n. 7. [Acesso em 25 abril 2021]. DOI 10.5902/2236499435469.

TERVALON, Melanie; MURRAY-GARCIA, Jann. Cultural humility versus cultural competence: A critical distinction in defining physician training outcomes in multicultural education. Journal of Health Care for the Poor and Undeserved. 1998. vol. 9, p. 117-125. [Acesso em 25 abril 2021]. DOI 10.1353/hpu.2010.0233.

VITORINO, Elizete Vieira; PIANTOLA, Daniela, 2020. Competência em informação: conceito, contexto histórico e olhares. Florianópolis: Editora da UFSC.

WALLERSTEIN, Immanuel, 2003. Utopística o las opciones históricas del Siglo XXI. México: Siglo XXI.

WALSH, Catherine, 2001. La educación intercultural en la educación. Peru: Ministerio de Educación.

WALSH, Catherine, 2005. Introducion - (Re) pensamiento crítico y (de) colonialidad. Em: WALSH, C. Pensamiento crítico y matriz (de)colonial. Reflexiones latinoamericanas. Quito: Ediciones Abya-yala. p. 13-35.

WALSH, Catherine, 2006. Interculturalidad y colonialidad del poder. Un pensamiento y posicionamiento ‘otro’ desde la diferencia colonial. Em: WALSH, C.; LINERA, A. G.; MIGNOLO, W. Interculturalidad, descolonización del estado y del conocimiento. Buenos Aires: Del Signo. p. 21-70.

WALSH, Catherine, 2007. Interculturalidad Crítica/Pedagogia decolonial. Em: Memórias del Seminário Internacional “Diversidad, Interculturalidad y Construcción de Ciudad”. Bogotá: Universidad Pedagógica Nacional.

WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: Perspectivas críticas y políticas. Visão Global. 2012. vol. 15, no. 1-2, p. 61-74. [Acesso em 15 maio 2021]. Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/visaoglobal/article/view/3412.

TRINIDAD PÉREZ, Arias, 2012 La construcción del campo moderno del arte en el Ecuador, 1860-1925: Geopolíticas del Arte y Eurocentrismo [em linha]. Tesis (Doctorado en Estudios Culturales Latinoamericanos). Ecuador: Universidad Andina Simón Bolívar. [Acesso em 25 abril 2021]. Disponível em: https://repositorio.uasb.edu.ec/bitstream/10644/3081/1/TD028-DECLA-Perez-La%20construccion.pdf.

WALSH, Catherine, 2014. Lo pedagógico y lo decolonial: entretejiendo caminos. Quito: Qurétaro.

WALSH, Catherine, 2017. Pedagogías Decoloniales. Prácticas insurgentes de resistir, (re) existir y (re)vivir. Tomo II. Quito: Abya-Yala.

ZIBECHI, Raúl, 2015. Descolonizar el pensamiento crítico y las prácticas emancipatorias. Bogotá: Ediciones desde abajo.

Downloads

Publicado

30/11/2021

Como citar

RIGHETTO, G. G.; KARPINSKI, C.; VIEIRA VITORINO, E. Competência em informação como forma de pedagogia decolonial e intercultural: construindo significados. Liinc em Revista, [S. l.], v. 17, n. 2, p. e5750, 2021. DOI: 10.18617/liinc.v17i2.5750. Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5750. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Decolonialidade e Ciência da Informação: veredas dialógicas