Agentes, espaços e poderes em disputa: um olhar sobre estratégias de resistência do Jornalismo a tentativas do Executivo de driblar o direito à informação

Autores

  • Gabriel Landim Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0001-8797-6599
  • Iluska Coutinho Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0001-5597-9453

DOI:

https://doi.org/10.18617/liinc.v19i2.6652

Palavras-chave:

Violência contra a imprensa, Mediação Cultural, Quarto Poder, Descredibilização, Estratégias narrativas

Resumo

Se a imprensa é considerada o "Quarto Poder" – atribuído pela sociedade e distinto daqueles de natureza constitucional – por fiscalizar os três poderes da República, com o avanço da internet o público ganha força, tem inúmeras possibilidades de compartilhamento de conteúdos e passa a monitorar o trabalho dos jornalistas, possibilitando um “Quinto Estado” (Dutton, Dubois 2015). No espaço público midiatizado, ampliado com as redes sociais digitais, há agentes em disputa por espaços e circuitos de circulação de notícias. Entre as marcas desse tensionamento, destacam-se as ações de descredibilização e questionamento do trabalho do jornalista. Tal descompasso entre avaliações do que deveria ser noticiado têm resultado em conflitos e crescentes ataques à imprensa. Como resposta do Jornalismo, esses casos passaram a ser noticiados. Em 2020, foi exposto na TV o esquema "Guardiões do Crivella" organizado para atrapalhar o trabalho da imprensa. No artigo, evidencia-se o conflito narrado em uma reportagem especial do Jornal Nacional da TV Globo, buscando compreender as estratégias utilizadas pelo telejornal na defesa da liberdade de imprensa. Observou-se os elementos utilizados na construção da narrativa por meio da Análise da Materialidade Audiovisual (Coutinho 2018) e de entrevistas realizadas com jornalistas da emissora. Por meio do conceito de Dramaturgia do Telejornalismo (Coutinho 2012), evidenciou-se que em um cenário de disputa pela informação, jornalistas tornaram-se vítimas, mas também narradores dos atentados ao Jornalismo. A análise apontou o fortalecimento da imagem dos profissionais como referência para a difusão de notícias e evidenciou o risco do cerceamento à imprensa para a democracia

Biografia do autor

Gabriel Landim, Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Membro do Núcleo de Jornalismo Audiovisual (NJA), coordenado pela Dra. Iluska Coutinho. Seus estudos são voltados para a televisão, o telejornalismo e o processo de produção da notícia. Desenvolve pesquisa sobre a violência contra a imprensa como notícia na TV. Graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário UniAcademia. Repórter na TV Integração Afiliada Globo em Minas Gerais.

Iluska Coutinho, Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil

Professora titular da Universidade Federal de Juiz de Fora é jornalista formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (1993), mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade de Brasília (1999) e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (2003), com estágio doutoral na Columbia University (NY). Pós-doutora em Comunicação (Universidade Nova de Lisboa), integra o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF e coordena o grupo de pesquisa Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (NJA). Atua como Coordenadora do curso de Graduação em Jornalismo e vice presidente do Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos da instituição. Desenvolve pesquisas sobre Jornalismo, Audiovisual e Direitos Humanos com financiamento da Fapemig e do CNPq. Bolsista produtividade em pesquisa, PQ2. Autora do livro "Dramaturgia do telejornalismo brasileiro" (Mauad-x, 2012), e de uma série de capítulos, já atuou como coordenadora de Pós-Graduação da UFJF (2015-2016); coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF (2019-2022 e 2010-2012) e dos cursos de especialização em "Arte, Cultura Visual e Comunicação" (2005-2007); "Televisão, Cinema e Mídias Digitais" (2007-2012) e "Jornalismo Multiplataforma" (2013-2014). Integra o Conselho Consultivo da Telejor - Rede de Pesquisadores de Telejornalismo, que coordenou em 2018/19. Atuou ainda nas sociedades científicas da área como Diretora Científica da Intercom (2014-2017) e Diretora editorial da SBPJor (2011-2013)

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Publicado

01/12/2023

Como citar

LANDIM, G.; COUTINHO, I. Agentes, espaços e poderes em disputa: um olhar sobre estratégias de resistência do Jornalismo a tentativas do Executivo de driblar o direito à informação. Liinc em Revista, [S. l.], v. 19, n. 2, p. e6652, 2023. DOI: 10.18617/liinc.v19i2.6652. Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/6652. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Guerras Culturais: Informação, Política e Disputas Simbólicas