Regulação de Plataformas e Soberania Digital
a União Europeia e a China diante da hegemonia do modelo estadunidense
DOI:
https://doi.org/10.18617/liinc.v21i1.7530Palavras-chave:
Soberania Digital, Plataformas Digitais, Regulação, Economia Digital, Hegemonia InformacionalResumo
Este artigo analisa as respostas políticas da União Europeia (UE) e da China diante da hegemonia dos Estados Unidos da América (EUA) sobre as infraestruturas que sustentam os sistemas de comunicação social, consolidadas por meio da digitalização, da privatização da internet e da concentração do mercado global de plataformas, problematizando a relação com a soberania digital como condição para a adoção de políticas de desenvolvimento autônomo, no plano tanto cultural quanto tecnológico. A partir da discussão dos dois casos, busca extrair lições úteis para a construção de políticas soberanas no Brasil. Metodologicamente, trata-se de uma análise comparativa baseada em uma extensa revisão bibliográfica teórica e da casuística referente aos casos de estudo, inserindo-se no projeto de pesquisa “A governança econômica das redes digitais: para uma análise dos mercados e da concorrência da internet e seus impactos sobre os direitos dos usuários”. As conclusões indicam que o modelo estadunidense moldou a arquitetura global da internet, estabelecendo um marco normativo as qual os outros países tiveram de adaptar ou desafiar. Enquanto a UE busca mitigar a concentração do mercado por meio do estímulo à digitalização e das regulações com ênfase nos direitos individuais, sem alterar estruturalmente sua dependência tecnológica, a China optou por um modelo de soberania digital, fortalecendo infraestruturas próprias e empresas nacionais a partir de definições do Estado. O estudo destaca que a crescente preocupação global com a plataformização da internet pode trazer novos desafios ao paradigma estadunidense. Argumenta-se que países como o Brasil devem analisar criticamente esses dois modelos e considerar estratégias próprias e de articulação regional, com vistas a garantir maior autonomia tecnológica no século XXI.
Referências
ALVES, G. A crise estrutural do capitalismo global: o capital diante de seus limites no século XXI. In: SOUSA, A. A. S.; OLIVEIRA, A. C. O.; SILVA, L. B.; SOARES, M. (org.). Trabalho e os limites do capitalismo: novas facetas do neoliberalismo. Uberlândia: Navegando Publicações, 2020. p. 49-66.
ARBOLEDA, M. Development as national liberation: the experience of the popular unity government in Chile. Radical Philosophy, Londres, n. 215, p. 23-38, out. 2023. Disponível em: https://www.radicalphilosophy.com/article/development-as-national-liberation. Acesso em: 25 jun. 2025.
ARRIGHI, G. Adam Smith em Pequim: [origens e fundamentos do século XXI]. São Paulo: Boitempo, 2008.
BOLAÑO, C. Indústria cultural, informação e capitalismo. São Paulo: Hucitec, 2000.
BOLAÑO, C.; MARTINS, H.; VALENTE, J. Para a análise teórico-metodológica das plataformas digitais como estruturas de mediação a partir da economia política da comunicação. Revista Avatares, n. 24, p. 1-20, 2022. Disponível em: http://id.caicyt.gov.ar/ark:/s18535925/wdrcmrjxo. Acesso em: 25 jun. 2025.
BONNAMY, C.; PERARNAUD, C. Introduction. EU digital policies and politics: unpacking the European approach to regulate the “digital”. Politique Européenne, v. 81, n. 3, p. 8-27, 2024.
BOYER, R. La théorie de la régulation: une analyse critique. Paris: La Découverte, 1986.
BRADFORD, A. The Brussels Effect: How the European Union Rules the World. Inglaterra: Oxford University Press, 2020.
BRANCHER, P. T. L.; POLITA, É. A geopolítica das plataformas: características estruturais da plataformização e as especificidades do modelo chinês. Geosul, v. 38, n. 86, p. 41-68, 2023.
CARCHEDI, G. From the crisis in surplus value to the crisis in the Euro. In: CARCHEDI, G.; ROBERTS, M. (orgs.). World in Crisis: A Global Analysis of Marx's Law of Profitability. Chicago: Haymarket Books, 2018. p. 452-468.
CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.
COFRECES, J. Capitalismo de plataformas y neoliberalismo: reconstrucción de una alianza socio-técnica. Revista Hipertextos, v. 12, n. 21, p. 80, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.24215/23143924e080. Acesso em: 25 jun. 2025.
COULDRY, N.; MEJIAS, U. The costs of connection: how data is colonizing human life and appropriating it for capitalism. Palo Alto: Stanford University Press, 2019.
COUTURE, S.; TOUPIN, S. What does the notion of “sovereignty” mean when referring to the digital? New Media & Society, v. 21, n. 10, p. 2305-2322, 2019. DOI: https://doi.org/10.1177/1461444819865984.
DUSSEL, E. China (1421-1800): razones para cuestionar el eurocentrismo. In: DUSSEL, E. Filosofía de la liberación: una antología. México: Akal, 2021.
FLEW, T. Regulating platforms. 1. ed. [S. l.]: Polity, 2021.
FLEW, T.; MARTIN, F.; SUZOR, N. Internet regulation as media policy. Rethinking the question of digital communication platform governance. Journal of Digital Media & Policy, v. 10, n. 1, p. 33-50, 2019.
FLORIDI, L. The fight for digital sovereignty: what it is, and why it matters, especially for the EU. Philosophy & Technology, v. 33, n. 3, p. 369-378, 2020.
FURTADO, C. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1967.
HIRATUKA, C.; DIEGUES, A. C. Artificial intelligence in the development strategy of contemporary China. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 45, n. 1, 2025.
HUSSON, M. Miséria do capital: uma crítica do neoliberalismo. Lisboa: Editions Terramar, 1999.
JIA, K.; KENNEY, M. The Chinese platform business group: an alternative to the Silicon Valley model?. Journal of Chinese Governance, v. 7, n. 1, p. 58-80, 2022.
JIA, L.; NIEBORG, D. Analyzing Chinese platform power: infrastructure, finance and geopolitics. In: HOYNG, R.; CHONG, G.; PAK, L. (ed.). Critiquing innovation: new media in a multipolar world. [Michigan]: Michigan State University Press, 2022. p. 1-28.
JUHÁSZ, L. The information strategy of the European Union. In: PINTÉR, R. Information society: from theory to political practice. Budapest: Gondolat Kiadó: Új Mandátum, 2008. Disponível em: http://spartan.ac.brocku.ca/~tkennedy/COMM/NETIS.pdf#page=131. Acesso 24 fev. 2025.
LESSIG, L. Laws of cyberspace. In: TAIWAN NET 98. 1998, Taipei. Anais [...]. Taipei: [s. n.], 1998. Disponível em: https://cyber.harvard.edu/works/lessig/laws_cyberspace.pdf. Acesso em: 25 jun. 2025.
MANDEL, E. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1972.
MARTINS, H. A governança econômica das plataformas digitais na União Europeia. Aracaju: Obscom, 2025. Relatório de pesquisa de pós-doutorado.
MARTINS, H.; VALENTE, J. Entrevista com César R. S. Bolaño. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 22, n. 1, p. 97-105, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/eptic/article/view/12986. Acesso em: 25 jun. 2025.
MCKNIGHT, S.; KENNEY, M.; BREZNITZ, D. Regulating the platform giants: building and governing China’s online economy. Policy & Internet, p. 1-23, 2023. DOI: https://doi.org/10.1002/poi3.336.
MIÈGE, B. A multidimensionalidade da comunicação. In: BOLÃNO, C. (org.). Globalização e regionalização das comunicações. São Paulo: Educ, 1999. p. 13-28.
MUELLER, M. L. Hyper-transparency and social control: Social media as magnets for regulation. In Telecommunications Policy, v. 39, n. 9, p. 804–810, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.telpol.2015.05.001.
NIEMINEN, H.; PADOVANI, C.; SOUSA, H. Why has the EU been late in regulating social media platforms? Javnost - The Public, v. 30, n. 2, p. 174-196, 2023.
NOAM, E. Media ownership and concentration in America. New York: Oxford University Press, 2009.
PERARNAUD, C. Finding the path to a more open internet. A new European approach toward internet standards. Open Future, 12 fev. 2024. Disponível em: https://openfuture.eu/publication/finding-the-path-to-a-more-open-internet/. Acesso em: 26 ago. 2024.
RENDAS, T.; HARTMANN, I. From Brussels to Brasília: how the EU AI Act could inspire Brazil’s generative AI copyright policy. GRUR International, Oxford, v. 73, n. 6, p. 495–496, 14 mar. 2024. DOI: 10.1093/grurint/ikae027.
SCHAAKE, M. The tech coup: how to save democracy from Silicon Valley. New Jersey: Princeton University Press, 2024.
SRNICEK, N. Capitalismo de plataformas. [S. l.]: Caja Negra, 2018.
VALENTE, J. Tecnologia, informação e poder: das plataformas online aos monopólios digitais. 2019. Tese (Doutorado em Sociologia), Universidade de Brasília, Brasília, 2019.
VAN DIJCK, J. Ver a floresta por suas árvores: visualizando plataformização e sua governança. Matrizes, v. 16, n. 2, p. 21-44, 2022.
WILLIAMS, R. Televisão: tecnologia e forma cultural. São Paulo: Boitempo; Belo Horizonte: PUC Minas, 2016
WEBER, I. Como a China escapou da terapia de choque. São Paulo: Boitempo, 2023.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Dr. César Ricardo Siqueira Bolaño, Dra Helena Martins do Rêgo Barreto, Dr. Ezequiel A. Rivero

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam na Liinc em Revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Consulte a Política de Acesso Livre e Autoarquivamento para informações permissão de depósitos de versões pré-print de manuscritos e artigos submetidos ou publicados à/pela Liinc em Revista.
Liinc em Revista, publicada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, é licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional – CC BY 4.0